Nunca me respondeste, quando te chamei, E só Deus sabe como era urgente e aflita A minha voz! Mas, desgraçadamente sós, Morrem os que se afogam No mar da sua própria condição. O meu, sem margens, é um descampado Desabrigado. Vagas e vagas de solidão, E a tua imagem, litoral sonhado, Sempre evocada em vão. Nunca me respondeste, e foi melhor assim. Um náufrago perpétuo é um pesadelo. Dizer-me o quê? Que, de longe, me vias afogar, Mas que nada podias. Pois sabias Que os poetas jurados, Humanas heresias, Nascem condenados A morrer afogados Todos os dias No tormentoso mar dos seus pecados." De Miguel Torga: http://www.contioutra.com/7-encantadores-poemas-de-miguel-…/